Três
municípios são premiados por fortalecer saúde pública
Publicado
em 29/10/2019 - 16:44
Por Pedro
Peduzzi – Repórter da Agência Brasil Brasília
O Ministério da Saúde e a
Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) premiaram hoje (29) três iniciativas
criativas que, apesar da limitação de recursos, conseguiram fortalecer a
atenção primária e melhorar o atendimento ao cidadão que busca o Sistema Único
de Saúde (SUS). Das 1.239 experiências enviadas de todas unidades da Federação
para concorrer ao prêmio APS Forte: Acesso Universal, 135 foram recomendadas
por técnicos. Destas, 11 foram selecionadas como finalistas; e três foram
premiadas.
Os vencedores foram programas
implementados em Abaetetuba (PA); na Comunidade do Salgueiro, na cidade do Rio
de Janeiro (RJ); e em Jaraguá do Sul (SC). Um dos jurados que definiram os
projetos vencedores foi a jornalista Mara Régia de Perna, da Radio Nacional
da Amazônia.
“Fiquei absolutamente
sensibilizada. Primeiro pela oportunidade de fazer uma viagem através do SUS
que dá certo. É tão bom a gente ver gente empreendedora, fazendo e
transformando. Esse prêmio consagra justamente essas experiências”, disse a
jornalista. “Tive uma grata satisfação com [o resultado, que premiou] a Menina
do Laço, de Abaetetuba, por proteger e apoiar as meninas nessa região que têm
uma alta incidência de gravidez precoce. Quando você vê o trabalho desses
agentes em barcos, em uma região onde a logística é tão difícil e desafiadora,
você aplaude de pé porque este é um Brasil que dá certo”.
Em depoimento por vídeo, o médico
oncologista Dráuzio Varella, que também foi jurado do prêmio, se disse
“surpreso com a qualidade dos projetos” que chegaram às suas mãos. O
representante da Opas no evento, Renato Tasca, disse que a boa qualidade dos
projetos têm como protagonistas servidores públicos que nem sempre recebem o
merecido reconhecimento.
“O servidor público tem sido cada
vez mais penalizado nos últimos anos. Esse prêmio me permitiu ver as injustiças
que são feitas contra os servidores públicos [no Brasil]”, disse o
representante pouco antes de anunciar os vencedores.
A
jornalista e radialista, Mara Régia foi um dos jurados do prêmio - José
Cruz/Agência Brasil
Abaetetuba
Intitulado Menina do Laço de
Fita, o projeto de Abaetetuba tem “a ternura como essência, a luta como
princípio e o empoderamento como estratégia para a cidadania”. Seu sucesso tem
como ponto de partida a qualificação de profissionais da saúde “para um serviço
ético, solidário e humano”.
“Fizemos diagnósticos para
verificar nossos focos de enfrentamento e identificamos que muitas adolescentes
estavam engravidando precocemente, causando uma série de transtornos em função
da falta de orientação e acompanhamento. Isso tudo porque não havia uma
integração das áreas de saúde, educação e assistência. Basicamente o que
fizemos foi otimizar o que tínhamos. O resultado foi uma política preventiva
que é mais eficaz e barata”, disse o prefeito de Abaetetuba, Alcides Negrão,
após participar da premiação.
Para o prefeito, a política ganha
um raio de ação maior quando o servidor começa a ter sentimento de poder. Ele
disse que isso muda a vida da pessoa. “Quando o servidor abraça a responsabilidade,
a eficiência se faz presente. Por isso, orientamos os servidores de forma a
tocá-los para interagir com a comunidade e para se fazerem presente”.
Jaraguá do Sul
O projeto de Jaraguá do Sul usou
as redes sociais e rádios locais para valorizar, junto à população, o trabalho
dos enfermeiros nos postos de saúde durante o processo de acolhimento e a
primeira consulta. Por meio dele foi possível zerar as filas na atenção
primária em saúde.
“A fila para consultas era
enorme. Basicamente implementamos ações visando valorizar os enfermeiros.
Saímos da cultura de que só o médico teria a solução, para conscientizar a
população a aceitar o enfermeiro para algumas situações envolvendo exames e
medicamentos”, disse o secretário de Saúde, Alceu Moretti.
Para valorizar iniciativas que melhoraram o
atendimento à população que utiliza o SUS, o Ministério da Saúde premia
iniciativas que melhoram o SUS - José Cruz/Agência Brasil
Rio de Janeiro
O terceiro projeto premiado –
desenvolvido por meio de uma parceria entre a secretaria municipal de Saúde
Pública e a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) – foi implementado
na Comunidade do Salgueiro, tendo como desafio implementar ações de promoção da
saúde no cenário escolar.
O projeto tem como foco crianças
com maior dificuldade de atenção e de aprendizagem. Por meio de atividades
lúdicas, o programa busca conhecer o comportamento e os interesses dessas
crianças, de forma a aprimorar os cuidados dirigidos a elas. O resultado foi
"uma melhora sensível" no comportamento delas.
“Nós primeiro identificamos as
crianças em situação de vulnerabilidade e, por meio de um trabalho envolvendo a
família, interferimos no comportamento. O trabalho mostrou-se mais eficiente do
que a preparação de diagnósticos, que acabam por estigmatizar e, em alguns
casos, medicar [indevidamente] as crianças”, explicou o médico de família e
comunidade do projeto-piloto, Daniel Trindade.
Segundo a médica de família e
comunidade Victória Mey, também ligada ao programa na Comunidade do Salgueiro,
a falta de conhecimento dos profissionais de educação para lidar com casos
complexos acabava remetendo os alunos a neurologistas, psicólogos e
fonoaudiólogos. “Esses profissionais não viam o cenário e os elementos que
previamente influenciaram no comportamento da criança”.
Multiplicar as experiências
De acordo com o secretário de
Atenção Primária do Ministério da Saúde do Ministério da Saúde, Erno Harzheim,
o prêmio tem a importância de reconhecer os feitos e as realizações que causam
impacto na vida das pessoas. “Agora, vamos levar essas experiências a outras
cidades brasileiras, divulgá-las e dar reconhecimento, para que a experiência
seja repassada e tenhamos mais boas práticas difundidas no Brasil”, disse o
secretário.
Os vencedores ganharam uma viagem
de trabalho com destino à Escola de Saúde de Andaluzia, em Granada (Espanha).
“Essa escola tem um trabalho muito importante para fortalecer atributos da
atenção primária, do ponto de vista de acesso, coordenação, continuidade e
integralidade”, disse o representante do ministério.
Edição: Fábio
Massalli