sábado, 8 de novembro de 2014

TRANSTORNO BIPOLAR DO HUMOR




(PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA)
Sinônimos e nomes relacionados:

 Comum em políticos  hipomaníacos, atenção!


Psicose maníaco-depressiva, transtorno ou doença afetivo bipolar, incluindo tipos específicos de doenças ou transtornos do humor, como ciclotimia, hipomania e transtorno misto do humor.
O que é a doença bipolar do humor: 

Até bem pouco tempo conhecida como psicose maníaco-depressiva, a doença bipolar do humor é caracterizada por períodos de um quadro depressivo, geralmente de intensidade grave, que se alternam com períodos de quadros opostos à depressão, isto é, a pessoa apresenta-se eufórica, com muitas atividades, às vezes fazendo muitas compras ou efetuando gastos financeiros desnecessários e elevados, com sentimento de onipotência, quase sempre acompanhados de insônia e falando muito, mais que seu habitual. Esse quadro é conhecido como mania. Tanto o período de depressão quanto o da mania podem durar semanas, meses ou anos. Geralmente a pessoa com essa doença tem, durante a vida, alguns episódios de mania e outros de depressão. É importante ficar claro que mania, no sentido médico, é diferente de mania para o leigo, significando para este hábitos que a pessoa sempre repete. 

O que causa a doença bipolar do humor:
A base da causa para a doença bipolar do humor não é inteiramente conhecida, assim como não o é para os demais distúrbios do humor. Sabe-se que os fatores biológicos (relativos a neurotransmissores cerebrais), genéticos, sociais e psicológicos somam-se no desencadeamento da doença. Em geral, os fatores genéticos e biológicos podem determinar como o indivíduo reage aos estressores psicológicos e sociais, mantendo a normalidade ou desencadeando doença. O transtorno bipolar do humor tem uma importante característica genética, de modo que a tendência familiar à doença pode ser observada.

Como se manifesta a doença bipolar do humor:
O mais chamativo da doença bipolar do humor são os episódios de mania que podem alternar-se, geralmente ao longo dos anos, com a depressão. Os episódios começam a manifestar-se em geral por volta dos 15 a 25 anos de idade, com muitos casos de mulheres podendo ter início entre os 45 e 50 anos. A freqüência em homens e mulheres, contudo, é a mesma. 

A pessoa apresentando o quadro de mania mostra um humor anormal e persistentemente elevado, expansivo, excessivamente eufórico e alegre, às vezes com períodos de irritação e explosões de raiva, contrastando com um período de normalidade, antes da doença manifestar-se. Além disto, há uma auto-estima grandiosa (com a pessoa sentindo-se poderosa e capaz de tudo), com necessidade reduzida de dormir (a pessoa dorme pouco e sente-se descansada), apresentando-se muito falante, às vezes dizendo coisas incompreensíveis (pela rapidez com que fala), não se fixando a um mesmo assunto ou a uma mesma tarefa a ser feita.

De que outras formas a doença bipolar do humor pode se manifestar:
Existem três outras formas através das quais a doença bipolar do humor pode se manifestar, além de episódios bem definidos de mania e depressão.
Uma primeira forma seria a hipomania, em que também ocorre estado de humor elevado e expansivo, eufórico, mas de forma mais suave. Um episódio hipomaníaco, ao contrário da mania, não é suficientemente grave para causar prejuízo no trabalho ou nas relações sociais, nem para exigir a hospitalização da pessoa.

Uma segunda forma de apresentação da doença bipolar do humor seria a ocorrência de episódios mistos, quando em um mesmo dia haveria a alternância entre depressão e mania. Em poucas horas a pessoa pode chorar, ficar triste, sentindo-se sem valor e sem esperança, e no momento seguinte estar eufórica, sentindo-se capaz de tudo, ou irritada, falante e agressiva.

A terceira forma da doença bipolar do humor seria aquela conhecida como transtorno ciclotímico, ou apenas ciclotimia, em que haveria uma alteração crônica e flutuante do humor, marcada por numerosos períodos com sintomas maníacos e numerosos períodos com sintomas depressivos, que se alternariam. Tais sintomas depressivos e maníacos não seriam suficientemente graves nem ocorreriam em quantidade suficiente para se ter certeza de se tratar de depressão e de mania, respectivamente. Seria, portanto, facilmente confundida com o jeito de ser da pessoa, marcada por instabilidade do humor.

Como se diagnostica a doença bipolar do humor:
O diagnóstico da doença bipolar do humor deve ser feito por um médico psiquiátrico baseado nos sintomas do paciente. Não há exames de imagem ou laboratoriais que auxiliem o diagnóstico. A dosagem de lítio no sangue só é feita para as pessoas que usam carbonato de lítio como tratamento medicamentoso, a fim de se acompanhar a resposta ao remédio.

Como se trata a doença bipolar do humor:
O tratamento, após o diagnóstico preciso, é medicamentoso, envolvendo uma classe de medicações chamada de estabilizadores do humor, da qual o carbonato de lítio é o mais estudado e o mais usado. A carbamazepina, a oxcarbazepina e o ácido valpróico também se mostram eficazes. Um acompanhamento psiquiátrico deve ser mantido por um longo período, sendo que algumas formas de psicoterapia podem colaborar para o tratamento.

TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE
Personalidade é definida pela totalidade dos traços emocionais e de comportamento de um indivíduo (caráter). Pode-se dizer que é o "jeitão" de ser da pessoa, o modo de sentir as emoções ou o "jeitão" de agir. Um transtorno de personalidade aparece quando esses traços são muito inflexíveis e mal-ajustados, ou seja, prejudicam a adaptação do indivíduo às situações que enfrenta, causando a ele próprio, ou mais comumente aos que lhe estão próximos, sofrimento e incomodação. Geralmente esses indivíduos são pouco motivados para tratamento, uma vez que os traços de caráter pouco geram sofrimento para si mesmos, mas perturbam suas relações com outras pessoas, fazendo com que amigos e familiares aconselhem o tratamento. Geralmente aparecem no início da idade adulta e são cronificantes (permanecem pela vida toda) se não tratados.

As causas destes transtornos geralmente são múltiplas, mas relacionadas com as vivências infantis e as da adolescência do indivíduo. 

O tratamento desses transtornos é bastante difícil e igualmente demorado, pois em se tratando de mudanças de caráter, o indivíduo terá de mudar o seu próprio "jeito de ser" para que o tratamento seja efetivo. 

Existem muitos tipos desses transtornos, como se vê a seguir:
 
Transtorno de Personalidade Paranóide:

Indivíduos desconfiados, que se sentem enganados pelos outros, com dúvidas a respeito da lealdade dos outros, interpretando ações ou observações dos outros como ameaçadoras. São rancorosos e percebem ataques a seu caráter ou reputação, muitas vezes ciumentos e com desconfianças infundadas sobre a fidelidade dos seus parceiros e amigos.
Transtorno de Personalidade Esquizóide:

Indivíduos distanciados das relações sociais, que não desejam ou não gostam de relacionamentos íntimos, realizando atividades solitárias, de preferência. Pouco ou nenhum interesse em relações sexuais com outra pessoa, e pouco ou nenhum prazer em suas atividades. Não têm amigos íntimos ou confidentes, não se importam com elogios ou críticas, sendo frios emocionalmente e distantes.
Transtorno de Personalidade Esquizotípica:

Indivíduos excêntricos e estranhos, que têm crenças bizarras, com experiências de ilusões e pensamento e discurso extravagante. Falta de amigos e muita ansiedade no convívio social.
Transtorno de Personalidade Borderline:

Indivíduos instáveis em suas emoções e muito impulsivos, com esforços incríveis para evitar abandono (até tentativas de suicídio). Têm rompantes de raiva inadequada. As pessoas a sua volta são consideradas ótimas, mas frente a recusas tornam-se péssimas rapidamente, sendo desconsideradas as qualidades anteriormente valorizadas.
Transtorno de Personalidade Narcisista:

Indivíduos que se julgam grandiosos, com necessidade de admiração e que desprezam os outros, acreditando serem especiais e explorando os outros em suas relações sociais, tornando-se arrogantes.
Transtorno de Personalidade Anti-social:

Indivíduos que desrespeitam e violam os direitos dos outros, não se conformando com normas. Mentirosos, enganadores e impulsivos, sempre procurando obter vantagens sobre os outros. São irritados, irresponsáveis e com total ausência de remorsos, mesmo que digam que têm, mais uma vez tentando levar vantagens.
Transtorno de Personalidade Histriônica:

Indivíduos facilmente emocionáveis, sempre em busca de atenção, sentindo-se mal quando não são o centro das atenções. São sedutores, com mudanças rápidas das emoções. Tentam impressionar aos outros, fazendo uso de dramatizações, e tendem a interpretar os relacionamentos como mais íntimos do que realmente são.
Transtorno de Personalidade Obsessivo-Compulsiva:

Indivíduos preocupados com organização, perfeccionismo e controle, sempre atento a detalhes, listas, regras, ordem e horários. Dedicação excessiva ao trabalho, dão pouca importância ao lazer. Teimosos, não jogam nada fora ("pão-duro") e não conseguem deixar tarefas para outras pessoas.
Transtorno de Personalidade Esquiva:

Indivíduos tímidos (exageradamente), muito sensíveis a críticas, evitando atividades sociais ou relacionamentos com outros, reservados e preocupados com críticas e rejeição. Geralmente não se envolvem em novas atividades, vendo a si mesmos como inadequados ou sem atrativos e capacidades.
Transtorno de Personalidade Dependente:

Indivíduos que têm necessidade de serem cuidados, submissos, sempre com medo de separações. Têm dificuldades para tomar decisões, necessitam que os outros assumam a responsabilidade de seus atos, não discordam, não iniciam projetos. Sentem-se muito mal quando sozinhos, evitando isso a todo custo.
O tratamento desses transtornos baseia-se na Psicoterapia (de orientação analítica ou comportamental na maioria dos casos) e Psicanálise. Algumas vezes deve-se também tratar outros transtornos que se desenvolvem juntamente com esses, e na maioria das vezes, por causa desses. Aparece comumente depressão e ansiedade associados a esses transtornos. A procura pelo atendimento é geralmente estimulada pelos amigos e familiares, que são muito mais incomodados pelo transtorno que o próprio indivíduo. Não se pode esquecer que muitas dessas características fazem parte dos traços normais de muitos indivíduos, e somente quando esses traços são muito rígidos e não adaptativos é que constituem um transtorno.

TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA
O que é?
O transtorno de ansiedade generalizada é uma preocupação exagerada que pode abranger diversos eventos ou atividades da vida da pessoa. Pode vir acompanhado por uma variedade de sintomas como irritabilidade, tensões musculares, perturbações no sono, entre outros. Costuma causar um comprometimento significativo no funcionamento social ou ocupacional da pessoa, podendo gerar um acentuado sofrimento.

O que se sente?
A pessoa pode sentir tremores, inquietação, dor de cabeça, falta de ar, suor em excesso, palpitações, problemas gastro-intestinais, irritabilidade e facilidade em alterar-se. Esses sintomas podem ocorrer na maioria dos dias por pelo menos seis meses. É muito difícil controlar a preocupação, o que pode gerar um esgotamento na saúde física e mental do indivíduo.

Como se faz o diagnóstico?
Como os sintomas podem ser os mais diversos e vários aspectos podem estar comprometidos, o trabalho inicial do médico está em excluir outras doenças que possam ter sintomas semelhantes ao transtorno de ansiedade generalizada. Para tanto, alguns exames clínicos podem ser necessários, sendo que mais importante do que isso é o relato detalhado de informações do paciente.

Como se trata?
O especialista utiliza técnicas psicoterápicas de apoio. Muitas vezes faz-se necessário o uso de medicação por um determinado período. A maioria das pessoas experimenta uma acentuada redução da ansiedade quando lhes é oferecida a oportunidade de discutir suas dificuldades com um profissional experiente.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Reprogramação celular parecia ficção científica, mas virou realidade


ter, 09/10/12
por Alysson Muotri |
categoria Espiral

Transformar um tipo de célula em outro, como pele em neurônio, parecia coisa de ficção cientifica. Mais incrível ainda era a possibilidade de transformar uma célula já madura numa célula-tronco, ainda não especializada. Essa plasticidade, ou capacidade adaptativa, da célula esbarrava em um dos grandes dogmas da biologia: de que, durante o desenvolvimento, as células do embrião vão se especializando em outros tipos de forma irreversível, formando os tecidos do individuo adulto.

Pois é, esse dogma caiu e, este ano, o prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina reconheceu dois pioneiros da plasticidade celular, John B. Gurdon e Shinya Yamanaka. Segue abaixo minha perspectiva dessa história que está apenas começando e promete ser a grande vedete da medicina no futuro.
(Na foto acima, Gurdon e sua cabeleira impecável. Trabalho com óvulos de sapos quebrou dogma da biologia)
O dogma da identidade irreversível das células começou a despencar com a pesquisa do inglês Gurdon, em 1962, que mostrou ser possível reprogramar células adultas para um estágio embrionário, pela transferência do núcleo em um ambiente propício. Gurdon, um típico Lord inglês, de fala suave e cabeleira farta, criou o ambiente utilizando óvulos de sapos, grandes, fáceis de manusear. A técnica levava o nome de clonagem celular. A observação abriu as portas da imaginação humana e o feito foi replicado em diversas espécies.
Veio então a ovelha Dolly, pelas mãos de Ian Wilmut, mostrando que a clonagem funcionava também em organismos mais complexos. Veio depois o veterinário sul-coreano Hwang Woo-suk, que disse ter feito o mesmo com células humanas. Era fraude. Os resultados “fabricados” foram publicados em 2005 na revista Science e depois retratados. Tornou-se dos maiores escândalos na área de células-tronco. Além disso, o episódio infame trouxe um alerta sobre a ética nesse campo de pesquisa, pois Hwang havia usado óvulos “doados” de estudantes em seu laboratório.
A dificuldade de conseguir óvulos humanos para pesquisa, somada à crescente atmosfera anticélulas-tronco embrionárias humanas promovida por setores mais conservadores da sociedade, emperrou o progresso da ciência nesse campo por alguns anos.
(Abaixo, trecho da revista “Época” de maio 2007, quando o foco da discussão no Brasil ainda eram as células-tronco embrionárias)
Em paralelo à carreira de Gurdon, o frustrado ortopedista japonês Shinya Yamanaka decidiu seguir a carreia acadêmica, abandonando a medicina. Sua frustração aumentou ainda mais com um período de pós-doutorado nos EUA que não lhe trouxe a satisfação desejada. Yamanaka voltou ao Japão e colaborou com um dos maiores centros de sequenciamento do mundo, o Riken.
Esse grupo estava interessado em estudar quais genes seriam diferentemente regulados em células-tronco embrionárias e em células de tecidos adultos. Ele teve acesso privilegiado à lista de genes que eram ativos unicamente em células-tronco embrionárias. Foi aí que teve a ideia de forçar a atividade desses genes em células somáticas da pele, por exemplo, buscando a reprogramação genética.
Foi literalmente um trabalho de japonês! Yamanaka e seu aluno, K. Takahashi, fizerem o experimento buscando sistematicamente a combinação de genes que levaria à reversão celular. Mais tarde, o próprio Yamanaka reconheceria que esse tipo de experimento jamais seria executado por um estudante não-asiático, em geral mais avessos a experimentos repetitivos e demorados – uma clara demonstração de como a cultura influencia no desenvolvimento da ciência. Apesar da descrença de feras da comunidade científica de que a estratégia funcionaria (por ser simples demais!), Yamanaka prosseguiu e publicou seus achados revolucionários em 2006, em um elegante trabalho na famosa revista “Cell”.
(Abaixo, o simpático Shinya: de ortopedista medíocre a prêmio Nobel em tempo recorde)
Os resultados não repercutiram de imediato. Como os experimentos foram feitos em camundongos, restava saber se o mesmo seria válido para humanos. O próprio Yamanaka desconfiava que talvez fosse preciso uma combinação de diferente de genes, específicos para a espécie humana. Além disso, as implicações da reprogramação não eram óbvias. Porém, estava claro para quem acompanhava a história toda que seria uma questão de tempo até descobrir a combinação exata em humanos. Em entrevista para a revista “Época” em maio de 2007 sobre revoluções na ciência, o pesquisador disse que a reprogramação celular iria dominar completamente a pesquisa em células-tronco. Opinião não compartilhada pelos colegas brasileiros naquele momento, que ainda focavam a discussão no uso de células-tronco embrionárias humanas versus células-tronco adultas.

Foi em dezembro de 2007 que Yamanaka e colegas publicaram um outro artigo na “Cell”, mostrando que a reprogramação funcionava em humanos, com os mesmos fatores que deram certo em camundongos. O impacto agora fora imediato, o fenômeno era altamente reprodutível e foi prontamente replicado por outros laboratórios. A facilidade da técnica foi democrática. Qualquer laboratório do mundo podia reprogramar células, gerando grande excitação na área. Agora seria possível cultivar células-tronco semelhantes às embrionárias, mas oriundas de um pedacinho da pele de um indivíduo adulto. Com elas, podia-se gerar um espectro enorme de células especializadas, contendo o mesmo genoma da pessoa ou do paciente. Essas células, em teoria, não seriam rejeitadas em um futuro transplante celular e poderiam substituir as células-tronco embrionárias derivadas de embriões humanos, pondo um fim na discussão ética.
Talvez a motivação de Yamanaka tenha sido inicialmente o transplante celular. Porém, a aplicação imediata da reprogramação celular aconteceu de forma diferente. Ao capturar o genoma de pacientes em um estágio embrionário, cientistas poderiam agora criar modelos de doenças humanas em laboratório. Acompanhar o desenvolvimento embrionário humano em condições controladas era praticamente impossível, e muito do que sabemos a respeito de doenças vinha de modelos animais (quando existiam).
Um exemplo disso foi descrito pelo meu grupo em 2010, quando mostramos que a técnica de reprogramação podia trazer insights para uma forma sindrômica do espectro autista. Revelamos defeitos em sinapses e mostramos a reversibilidade da condição em neurônios humanos, quebrando outro dogma, agora da neurociência. O trabalho foi publicado na revista “Cell” e contribuiu para coroar a tecnologia de Yamanaka, abrindo perspectivas de modelagem para diversas outras doenças humanas e acelerando a descoberta de novos medicamentos. A tecnologia ecoou também no Brasil. Já no começo de 2011, o trabalho pioneiro da dra. Patrícia Beltrão-Braga mostrou ser possível reprogramar células extraídas da polpa de dentes de leite. Os participantes desse trabalho foram provavelmente os primeiros brasileiros a terem células reprogramadas – ponto para a ciência brasileira.
Isso tudo mostra que a simplicidade do método de Yamanaka foi o fator responsável pela disseminação rápida dessa tecnologia, trazendo resultados imediatos para a pesquisa básica. Efeito semelhante aconteceu com o Nobel de Medicina dedicado ao processo de interferência do RNA, em 2006.
Muitos se questionaram se o prêmio de 2012 não deveria ser divido com Ian Wilmut, cuja equipe clonou a ovelha Dolly, ou James Thompson, o primeiro a cultivar células-tronco embrionárias humanas em laboratório – mas acredito que eles fizeram apenas contribuições incrementais. Outro que deve ter ficado com um gostinho amargo foi o pesquisador alemão radicado em Boston (EUA) Rudolf Jaenisch. Apesar da enorme contribuição de Jaenisch para as pesquisas com células-tronco e, mais recentement, para elucidar como a reprogramação funciona a nível molecular, sua participação não deixa de ser igualmente incremental. Ex-alunos de Jaenisch, em atividades patéticas, até tentaram ressaltar a importância desse grupo, talvez com o intuito de chamar a atenção do Comitê do Nobel. Além disso, acredito que a publicação de uma carta aberta ano passado, assinada por Yamanaka e outros pesquisadores, sobre uma possível dominância de pesquisadores de Boston em certas revistas cientificas, afetou a já remota chance de Jaenisch.
O impacto real da descoberta de reprogramação celular ainda está por vir. Pesquisadores já estão criando formas mais eficientes e seguras de reprogramar células adultas, e o sonho de regeneração usando transplante de células-tronco do próprio paciente fica a cada dia mais próximo. A técnica está sendo usada para modelagem de diversas doenças humanas e vai, com certeza, trazer novas oportunidades terapêuticas. Além disso, o uso menos convencional da reprogramação celular, como para a preservação de espécies em extinção ou estudos evolucionários, estão em andamento. E o emprego dessa técnica parece estar limitado apenas pela criatividade humana.

FONTE: G1