Possíveis
reservatórios do hantavírus
Pesquisadores identificam anticorpos contra vírus
em morcegos de diferentes espécies
RODRIGO DE OLIVEIRA ANDRADE | Edição Online 0:20 29
de setembro de 2015
Morcegos de São Paulo e Minas Gerais apresentaram
anticorpos específicos contra nucleoproteína recombinante do hantavírus
Morcegos brasileiros de espécies e hábitos
alimentares distintos, e não apenas aqueles que se alimentam de insetos, podem
estar servindo como reservatório do hantavírus, causador de doenças cardiopulmonares
e outras complicações. Em um estudo
publicado na revista The American Journal of Tropical Medicine and Hygiene,
um grupo internacional de pesquisadores sob coordenação do biólogo Gilberto
Sabino-Santos Jr, do Centro de Pesquisa em Virologia da Faculdade de Medicina
de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), analisou morcegos de
várias espécies que se alimentam de frutas, carne e sangue. Ao todo, capturaram
270 animais entre fevereiro de 2012 e abril de 2014 em São Paulo e no norte de
Minas Gerais. Destes, 53 tiveram amostras de sangue colhidas para análises.
Os pesquisadores verificaram que nove deles tinham
anticorpos específicos contra a nucleoproteína recombinante do hantavírus
Araraquara, variedade assim chamada em referência à cidade do interior
paulista, onde foi encontrada pela primeira vez em 1995. O resultado, segundo
eles, é preocupante, dada a diversidade desses mamíferos no país. “Os
resultados também sugerem que esses animais tiveram contato com o vírus em
algum momento e, portanto, estariam servindo de reservatório do hantavírus”,
diz Sabino-Santos. Até então, outros estudos sugeriam que só roedores e
morcegos que se alimentavam de insetos poderiam abrigar o vírus.
Os roedores são os principais reservatórios
naturais conhecidos do hantavírus, que os transmitem pela urina, saliva e
fezes. No Brasil, o rato-de-rabo-peludo (Necromys lasiurus) é o
principal transmissor do vírus. O mesmo roedor também é responsável pela
disseminação do protozoário Leishmania (Viannia) braziliensis, causador
da leishmaniose tegumentar americana, a forma mais comum de leishmaniose em
seres humanos no território nacional (ver Pesquisa FAPESP nº
101).
Os diversos tipos de hantavírus representam um
grave problema de saúde pública, principalmente em países em desenvolvimento
como o Brasil. De 1993 a 2012, o país registrou um total de 1.573 casos de
síndrome pulmonar causada pelo hantavírus, com uma taxa de letalidade de 39%.
Os indivíduos infectados têm febre alta e sintomas semelhantes a um resfriado
comum, o que aumenta os riscos de transmissão para outras pessoas. No entanto,
a doença pode rapidamente evoluir para um edema pulmonar e insuficiência
respiratória.
“O papel desses animais enquanto reservatórios de
hantavírus ainda não foi totalmente esclarecido”, explica Sabino-Santos. ”O
potencial impacto de morcegos infectados na transmissão do vírus para humanos
precisa ser mais estudado.” Para verificar se de fato os morcegos funcionam
como reservatórios naturais do hantavírus, o grupo de Sabino-Santos pretende
avaliar o genoma do vírus nas fezes e na urina dos animais. “Queremos tentar
detectar o vírus nos tecidos de pulmão, coração e rim. Se o vírus for
encontrado nesses tecidos, e se o estiverem excretando nas fezes e na urina,
então teremos um forte indício de que os morcegos são reservatórios naturais de
hantavírus e podem transmitir a doença para humanos.” A transmissão se dá pelo
contato com a urina, fezes ou saliva do morcego. Essas situações podem ocorrer
em regiões rurais e sem saneamento.
Projeto
Detecção e ecologia de hantavírus em pequenos mamíferos selvagens e em seus ectoparasitas (nº 11/06810-9); Modalidade Bolsas no país – Doutorado; Pesquisador responsável Luiz Tadeu Moraes Figueiredo Bolsista Gilberto Sabino dos Santos Junior (FMRP-USP); Investimento R$ 155.882,0 (FAPESP). Artigo científico
Sabino-Santos Jr, G. et al. Evidence of Hantavirus Infection among Bats in Brazil. The American Society of Tropical Medicine and Hygiene. v. 93, n. 2, p. 404-6. ago. 2015.
Detecção e ecologia de hantavírus em pequenos mamíferos selvagens e em seus ectoparasitas (nº 11/06810-9); Modalidade Bolsas no país – Doutorado; Pesquisador responsável Luiz Tadeu Moraes Figueiredo Bolsista Gilberto Sabino dos Santos Junior (FMRP-USP); Investimento R$ 155.882,0 (FAPESP). Artigo científico
Sabino-Santos Jr, G. et al. Evidence of Hantavirus Infection among Bats in Brazil. The American Society of Tropical Medicine and Hygiene. v. 93, n. 2, p. 404-6. ago. 2015.
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