Novas
estratégias contra a Aids
Anthony
Fauci apresentou os resultados de experimentos que podem levar a uma nova
estratégia de tratamento e prevenção da AIDS
de
Chicago
No final da tarde de
segunda-feira, dia 17, diante de uma plateia de quase 2 mil pessoas, Anthony
Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID),
apresentou os resultados de experimentos realizados por sua equipe, em
colaboração com outros centros de pesquisa dos Estados Unidos, que podem levar
a uma nova estratégia de tratamento e prevenção da AIDS. É o uso de anticorpos
que bloqueiam a ação da integrina α4β7, uma proteína que controla a ação de
células do sangue conhecidas como CD4, importante no combate ao vírus HIV.
“Ainda não é a cura, mas
conseguimos deter a replicação do vírus”, disse ele em sua apresentação na
primeira sessão plenária do Congresso HIV Research for Prevention (HIVR4P),
que seguirá até sexta, dia 21, em Chicago, nos Estados Unidos. Se avançar como
esperado, essa estratégia poderia resolver ou amenizar um problema do
tratamento de pessoas com HIV/AIDS: os medicamentos antivirais eliminam com
eficácia a replicação do HIV, mas o vírus volta a se replicar logo depois de a
medicação ser interrompida.
As conclusões que ele apresentou
baseiam-se em um estudo realizado com 15 macacos e
publicado em 14 de outubro na Science. Durante 90 dias,
contados a partir da quinta semana após a infecção, sete animais receberam uma
medicação antiviral (imunoglobuina G) e oito, o anticorpo. Depois desse
período, o HIV voltou a se multiplicar nos animais que receberam antiviral,
enquanto os do grupo não apresentaram sinais de aumento da carga viral mesmo
depois de nove meses depois da interrupção do tratamento.
“É uma prova de conceito em
modelos animais, e estamos planejando agora uma prova de conceito em seres
humanos”, disse ele a Pesquisa FAPESP, após a apresentação. Por ser a
avaliação de uma hipótese – uma prova de conceito –, em geral não se sabe se a
proposta é factível, mas neste caso os pesquisadores tiveram sorte. O anticorpo
foi aprovado pela Agência de Alimentos e Medicamentos (FDA) dos Estados Unidos
em 2014 com o nome de vedolizumab, para tratamento de doenças inflamatórias
intestinais.
“Temos de avaliar a segurança e a
eficácia da droga com muito cuidado, porque foi aprovada contra colite, não
contra Aids”, disse Fauci. O NIAID está planejando um teste clínico com 17 a 27 pessoas com
HIV para verificar se seria possível obter os mesmos resultados
obtidos em macacos. Se der certo, segundo Fauci, a etapa seguinte seria um
teste em escala maior, com centenas de participantes.
Em 30 anos, a Aids deixou de ser
uma doença fatal e se tornou tratável, mas a transmissão do vírus continua
crescendo. Os 28 países da Comunidade Europeia registraram quase 30 mil novos
casos por ano, com crescimento da transmissão entre homens (+44% de 2005 a
2014) e redução da transmissão heterossexual (-33%, no mesmo período), segundo
Ruxandra Draghia-Akli, diretora geral de Pesquisa e Inovação da Comissão
Europeia. “Um programa de prevenção com o grupo de homens que fazem sexo com
homens deveria ser prioridade na Europa”, disse ela.
Nos Estados Unidos, registram-se
cerca de 50 mil novos casos por ano e no Brasil, cerca de 40 mil. No mundo
todo, 28 milhões de pessoas recebem o diagnóstico positivo para HIV a cada ano.
“Os medicamentos de ação
prolongada serão muito importantes para tratar e prevenir a Aids”, disse Myron
Cohen, diretor do Institute for Global Health and Infectious Diseases. Até o
momento, nenhuma das vacinas previstas funcionou de modo satisfatório, embora
outras estratégias, como os medicamentos profiláticos e dispositivos como os
aneis vaginais com microbicina, estejam sendo avaliados e debatidos no
congresso de Chicago.
Artigo
científico
Siddappa N. Byrareddy, S.N. et al. Sustained virologic control in SIV+ macaques after antiretroviral and α4β7 antibody therapy. Science , v. 354, n. 6309, p. 197-202, 2016.
Siddappa N. Byrareddy, S.N. et al. Sustained virologic control in SIV+ macaques after antiretroviral and α4β7 antibody therapy. Science , v. 354, n. 6309, p. 197-202, 2016.
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