Cidades
com extrema desigualdade sofrem mais com tuberculose
Publicado
em 13/09/2018 - 06:55
Por Camila
Boehm – Repórter da Agência Brasil São Paulo
A tuberculose tem maior
incidência, tanto na população prisional como na população em geral, em
municípios com extrema desigualdade na distribuição de renda. Em localidades
com boa distribuição de renda, a incidência da doença é menor.
A conclusão é de pesquisa de
doutorado de Daniele Maria Pelissari e do professor Fredi Alexander Diaz
Quijano, da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da Universidade de São Paulo
(USP).
Segundo o estudo, nas cidades com
maior desigualdade a população não encarcerada também está submetida a
condições de fragilidade econômica e vulnerabilidade social, o que determina a
incidência da tuberculose.
Já nas cidades com melhor
condição socioeconômica, as prisões concentram ainda grande número de doentes
porque têm condições mais vulneráveis.
Estratégias
“Identificamos que a importância
relativa da exposição às prisões sobre a incidência da tuberculose varia
segundo as condições socioeconômicas dos municípios. Isso significa que
estratégias focalizadas para o fim da tuberculose devem considerar o contexto
socioeconômico”, explicou Daniele.
Nas cidades com extrema
desigualdade de distribuição de renda, a incidência da tuberculose na população
prisional é de 1041,2 pessoas por 100 mil pessoas privadas de liberdade ao ano.
Entre a população não prisional, a incidência é de 67,5 pessoas por 100 mil
pessoas ao ano.
Já nos municípios com boa
distribuição de renda, a incidência de tuberculose na população prisional é de
795,5 pessoas por 100 mil pessoas privadas de liberdade ao ano.
A incidência de tuberculose na
população não prisional é de 35,6 pessoas por 100 mil pessoas ao ano.
“A população em geral está bem assistida economicamente, então ela não adoece de uma doença relacionada à pobreza. Quem vai adoecer é quem está na prisão porque as condições são muito precárias”, disse Daniele sobre moradores de cidades com menor desigualdade.
Taxa de incidência
No estudo, os pesquisadores
avaliaram a associação entre a exposição às prisões, a taxa de incidência de
tuberculose e sua interação com a desigualdade da distribuição de renda nos
municípios de 2013 a 2015.
Foram analisadas 137.698 pessoas
com tuberculose, das quais 10,7% eram privadas de liberdade em 954 cidades que
em 2014 tinham pelo menos uma unidade prisional.
Os resultados, segundo a
pesquisadora, podem nortear as ações contra a doença de acordo com a situação
socioeconômica.
“Por exemplo, intervenções
focadas na população prisional teriam um impacto substancial na incidência de
tuberculose em cidades com boa distribuição de renda, pois aí a ocorrência da
doença está mais concentrada em populações mais vulneráveis”, disse.
No entanto, nos locais com extrema
desigualdade na distribuição de renda, as estratégias focalizadas para reduzir
os efeitos de fatores socioeconômicos também devem ser priorizadas, segundo
Daniele, “pois a população não encarcerada desses municípios também está em
condições de vulnerabilidade”.
Edição: Kleber
Sampaio
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