Contaminação por
agrotóxicos tem afetado comunidades indígenas, diz antropóloga
- 29/08/2016
16h53
- São
Paulo
Daniel Mello - Repórter da Agência Brasil
O
uso de agrotóxicos tem contaminado o solo e a água usada por comunidades
indígenas em todo o país, segundo a antropóloga Lúcia Helena Rangel. A
pesquisadora representou o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) na audiência
pública, realizada hoje (29), que discutiu os perigos dos defensivos,
organizada pela Defensoria Pública de São Paulo e A Defensoria Pública na
União.
“Nós
temos um registro constante de contaminação por agrotóxico em diversas áreas
indígenas. Em alguns lugares do Brasil o problema é agudo”, ressaltou
Lúcia Helena ao citar como exemplo o caso de três comunidades guarani-kaiowá no
Mato Grosso do Sul. A situação dos grupos residentes nos municípios de Amambai,
Aral Moreira e Paranhos foi denunciada no relatório O Direito Humano à
Alimentação Adequada e à Nutrição do Povo Guarani e Kaiowá. O documento foi
elaborado pelo Cimi em parceria com a Rede de Ação e Informação pelo Direito a
se Alimentar.
“Os
pedaços de terras que estas comunidades ocupam dentro de seus territórios
tradicionais estão dominados por monoculturas das fazendas, cujo cultivo
demanda o uso excessivo de agrotóxicos e de outros produtos que representam grave risco à sua saúde”, enfatiza o
relatório lançado no último dia 16.
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A
antropóloga destacou, no entanto, que a situação das comunidades indígenas,
inclusive em relação à contaminação por agrotóxicos, tem que ser entendida em
um contexto de violações de direitos. “[As violências] vão desde a posse da
terra, o direito ao território, até as questões mais suaves, que são o direito
a uma religião, a rituais”, ressaltou.
O
problema da contaminação por agrotóxicos se soma, de acordo com Lúcia Helena, à
difusão de sementes transgênicas. “Aqui mesmo no estado de São Paulo, no Vale
do Ribeira, as comunidade guarani reclamam disso. Porque passam os trens
carregando milho e caem sementes. Assim como o milho transgênico dos Estados
Unidos solapa a diversidade do milho mexicano”, exemplificou sobre o fenômeno
em que as plantas modificadas geneticamente tendem a substituir as
nativas quando são dispersada fora das áreas de cultivo.
Riscos
A
professora da Universidade Federal de Santa Catarina, Sônia Corina Hess,
apresentou dados que mostram os riscos dos principais agrotóxicos usados no
Brasil. O herbicida glifosato, por exemplo, pode apresentar, segundo a
especialista, efeitos tóxicos mesmo em pequenas concentrações.
De
acordo com Sônia, experimentos feitos com ratos que beberam água contaminada
por glifosato em uma quantidade muito menor do que a permitida pela legislação
brasileira demonstrou diversos efeitos nocivos. “Todos desenvolveram tumores,
tanto do sexo masculino quanto do sexo feminino, e alterações metabólicas muito
intensas”, ressaltou.
Sobre
o 2,4-D, outro herbicida usado na agricultura brasileira, Sônia lembrou que o
produto foi desenvolvido a partir do Agente Laranja, desfolhante usado na
Guerra do Vietnam. O defensivo ficou famoso por ser altamente cancerígeno e
causar mal formação em fetos. Segundo a especialista, caso o produto não seja
purificado adequadamente, o 2,4-D pode apresentar as mesmas substâncias tóxicas
presentes no Agente Laranja.
Edição: Jorge Wamburg
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