Frio aumenta em 30% chances
de internação por problemas cardíacos
Publicado
em 16/06/2018 - 16:43
Por Ludmilla
Souza – Repórter da Agência Brasil São Paulo
Entre junho e agosto, meses
marcados por temperaturas mais frias, as internações nos hospitais públicos da
cidade de São Paulo por insuficiência cardíaca e infarto chegam a ser 30%
maiores do que no verão. É o que mostra estudo inédito realizado por médicos da
Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein.
A pesquisa, liderada pelo
cardiologista Eduardo Pesaro considerou todas as internações por insuficiência
cardíaca (76.474 casos) e infarto agudo do miocárdio (54.561 casos) registradas
em 61 hospitais públicos da capital paulista entre janeiro de 2008 e abril de
2015.
Os dados fazem parte do Cadastro
Nacional de Saúde, do Sistema Único de Saúde (SUS). Foram consideradas também
as temperaturas mínima, máxima e média em cada período ao longo desses sete
anos, registradas pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo
(Cetesb). “Provavelmente isso se dá por fenômenos múltiplos como o frio e
a qualidade de ar como principais aspectos de risco. As pessoas que estão em
maior risco e que já são doentes, com pressão alta, diabetes, devem ter uma
atenção especial nesse período e maior controle como tomar corretamente o
remédio e medir a pressão”, aconselhou o cardiologista.
A pesquisa mostrou ainda que o
número médio de internações por insuficiência cardíaca no inverno foi maior em
pacientes com mais de 40 anos. Já as hospitalizações por infarto foram
registradas em maior número em pacientes com idade superior a 50 anos. De
acordo com o cardiologista, as causas do aumento do risco cardiovascular no
inverno não estão diretamente ligadas à queda do ponteiro do termômetro, mas às
condições ambientais e socioeconômicas de São Paulo.
“Inverno não significa só frio,
mesmo porque em São Paulo ele é ameno, com temperatura média de 18 graus e
variação de apenas 5 graus. Ele também significa poluição aumentada,
crescimento de epidemias provocadas pelo vírus da gripe, o Influenza, além do
tempo seco”, diz Pesaro.
Poluição
Com uma população de quase 12
milhões de habitantes e uma frota de 8,64 milhões de veículos (incluindo
caminhões e ônibus), São Paulo fica mais poluída no inverno. A baixa umidade,
chuva reduzida e as frequentes inversões térmicas (quando o ar frio é bloqueado
por uma camada de ar quente e fica preso perto da superfície) são condições que
impedem a dispersão de poluentes como monóxido de carbono (CO), dióxido de
nitrogênio (NO²), dióxido de enxofre (SO²) e material particulável inalável
(PM10).
“Temperatura baixa, pouca umidade
e alta poluição contribuem para uma maior incidência de doenças respiratórias e
gripe, com o consequente aumento do risco cardiovascular”, explica Pesaro.
Uma das hipóteses levantada no estudo
é de que o aumento do risco de infarto e de insuficiência cardíaca no inverno
está relacionado às condições socioeconômicas da população. De acordo com o
Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, na região
metropolitana de São Paulo, 596.479 casas são consideradas subnormais, como
assentamentos irregulares, favelas, invasões, palafitas, comunidades com
deficiência na oferta de serviços públicos básicos, como rede de esgoto e
tratamento de água, coleta de lixo e energia elétrica. A capital paulista
concentra dois terços desse total ou 397.652 lares.
“Em São Paulo, uma população mais
desamparada, com casas improvisadas ou sem aquecimento, mais exposta à poluição
e ao frio pode apresentar mais risco de ter doenças cardíacas no inverno que
uma pessoa que mora em um país de clima temperado, mas está mais protegida por
ter calefação na residência e roupas melhores”, diz Pesaro.
Para se proteger, ele recomenda
que as pessoas que têm condições, aqueçam bem a casa. “Um aquecedor portátil
ajuda em semanas mais extremas de frio. Outra coisa é tratar do vazamento de ar
frio por janelas, portas e telhado. E também se agasalhar melhor, pois tudo
isso contribui com a proteção, a ideia é não expor ao frio as pessoas que têm
maior risco, como idosos e doentes cardiovasculares”.
Ele ainda ressalta a importância
da vacinação. “As epidemias virais e as gripes aumentam o risco cardíaco,
vacinar-se especialmente nas vésperas do outono e inverno é importante também”.
O que acontece com o coração
O frio faz os vasos sanguíneos se
contraírem e eleva a liberação de adrenalina, o que faz subir a pressão
arterial. Além disso, o aumento da poluição contribui para doenças
respiratórias que sobrecarregam o coração. Já o Influenza (vírus da gripe) é
capaz de causar inchaço ou inflamação das coronárias, com a possibilidade de
liberar as placas de colesterol nela depositadas. As placas, por sua vez, podem
causar bloqueios e interromper o fluxo sanguíneo.
Para Pesaro, o governo precisa
investir em políticas públicas que melhorem a qualidade de vida da população.
“As pessoas e os governos têm que cuidar melhor daqueles indivíduos em maior
risco durante o inverno. Quem tem risco deve regularizar o controle das suas
próprias doenças, como por exemplo, pressão alta, que sabemos que aumenta no
inverno, lembrar de tomar os remédios, fazer a medida da pressão com
periodicidade e tentar não passar frio mesmo dentro de casa”, aconselha.
Edição: Denise
Griesinger
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