Exercício
físico intenso pode antecipar morte de células do sistema imunológico
11 de maio de 2016
Diego Freire | Agência FAPESP –
Pesquisadores descobriram que o exercício físico intenso pode acelerar o processo
de apoptose – a morte celular programada – dos neutrófilos, células do sistema
imunológico.
Importante para o equilíbrio do
funcionamento do organismo, a apoptose é um mecanismo que deve ocorrer de forma
ordenada – do contrário, há danos à saúde, como quando células tumorais, que
deveriam morrer naturalmente, persistem.
“Várias células do nosso
organismo estão morrendo agora para que outras novas ocupem seu lugar. Assim
ocorre com os neutrófilos, que têm um tempo desejado na corrente sanguínea
porque novas células do tipo estão continuamente sendo produzidas na medula
óssea, em um processo fisiológico equilibrado que é prejudicado se a apoptose é
diminuída”, disse Tania Cristina Pithon Curi, professora do Centro de Ciências
Biológicas e da Saúde da Universidade Cruzeiro do Sul (Unicsul) e participante
do projeto “Efeitos da prática regular de
atividade física na qualidade de vida, níveis de estresse e no sistema imune de
adultos”, realizado com apoio da FAPESP.
Os neutrófilos são um subgrupo
dos leucócitos, também chamados de glóbulos brancos, células encontradas no
sangue cuja função é proteger o organismo contra agentes causadores de doenças,
como bactérias. Quando há poucas dessas células o organismo fica mais sujeito a
infecções – caso de um grupo de 12 triatletas que participaram da pesquisa.
Logo após cerca de quatro horas
de prova e de percorrerem 21 quilômetros (km) a pé, 90 km de bicicleta e 2 km a
nado, os atletas tiveram seu sangue coletado pelos pesquisadores em
laboratórios instalados sob tendas no local da competição, em Ubatuba, no
litoral paulista. Antes de competirem, todos haviam passado por exames de
laboratório e avaliações da composição corporal e da capacidade
cardiorrespiratória.
Os neutrófilos, tipo celular de
interesse da pesquisa, foram isolados do sangue coletado. Em um citômetro de
fluxo, aparelho por meio do qual é possível realizar análises de
características físicas e químicas de uma célula, os pesquisadores avaliaram
uma série de parâmetros relacionados à apoptose dos neutrófilos.
“Quando a célula começa a morrer
por apoptose, um fosfolipídeo denominado fosfatidilserina, que está presente
dentro da membrana celular, migra para a parte externa da membrana. Nós
aplicamos na amostra uma substância que se liga a esse fosfolipídeo e emite uma
fluorescência que é detectada pelo citômetro”, disse Curi.
“Também foram observadas outras
características típicas da apoptose, como fragmentação de DNA e alterações na
mitocôndria celular, sugerindo a morte precoce da célula, cujo tempo de vida
normal é de aproximadamente 10 horas no sangue”, disse.
Alternativas terapêuticas
Diante da constatação da
antecipação da apoptose dos neutrófilos após exercícios físicos intensos, os
pesquisadores investigaram as possíveis causas do processo, correlacionando o
aumento da autodestruição das células com substâncias circulantes no plasma,
como os ácidos graxos livres, compostos orgânicos produzidos quando as gorduras
são quebradas.
“A prática de exercício físico
aeróbio acarreta um aumento da lipólise, processo de degradação de lipídeos em
glicerol e ácidos graxos, que são utilizados em maior quantidade como fonte de
energia. A presença em grande quantidade desses ácidos graxos, provocada pela
exacerbação da lipólise, pode estar associada à apoptose precoce dos
neutrófilos”, indicou Curi.
Os pesquisadores trabalham também
em alternativas terapêuticas à perda de neutrófilos por parte de atletas de
alto rendimento.
“Exercício físico é bom,
importante, mas a intensidade e a frequência com que ele é praticado, como
mostrado pela pesquisa que constatou a apoptose precoce dos neutrófilos, podem
ter impactos tanto positivos como negativos”, disse Curi.
“Ainda assim, não se pode
simplesmente pedir a um atleta profissional que diminua suas atividades. Dessa
forma, temos investigado estratégias de suplementação para minimizar a
antecipação da apoptose, evitando que o atleta fique com seu sistema
imunológico debilitado após exercícios intensos e mais vulnerável a infecções,
entre outros riscos”, disse.
Entre as suplementações estudadas
está a de glutamina, aminoácido livre que atua como nutriente para as células
imunológicas.
“A glutamina é um aminoácido não
essencial, sendo produzido pelo organismo de acordo com a necessidade. Quando o
atleta pratica exercício físico em uma intensidade muito alta, a concentração
desse aminoácido pode ser reduzida no plasma, tornando importante sua
suplementação”, disse Curi.
“Nós investigamos o efeito
molecular desse aminoácido, que é importante para a função de leucócitos, e
constatamos que linfócitos e monócitos consomem altas taxas de glutamina. Os
neutrófilos chegam a consumi-la mais do que a glicose, cuja taxa de consumo é
de 460 nanomoles/hora/mg de proteína, enquanto que a de glutamina é de 770,
quase o dobro”, disse.
Ainda de acordo com a
pesquisadora, a glutamina pode ser responsável por “manter a maquinaria da
célula funcionando adequadamente e acabando por modular a função celular e,
eventualmente, evitar a apoptose”.
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