Advogada
de vítima de estupro quer representar contra delegado na corregedoria
- 28/05/2016 16h58
- Rio de Janeiro
Vinícius
Lisboa - Repórter da Agência Brasil*
A advogada da adolescente que
denunciou ter sofrido um estupro coletivo no Rio de Janeiro pretende procurar a
corregedoria da Polícia Civil para questionar a conduta do delegado Alessandro
Thiers, titular da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI).
Eloisa Samy afirma que Thiers
conduziu o depoimento da vítima de forma a culpabilizá-la pelo ocorrido.
"Ele perguntou à vitima se ela tinha por hábito participar de sexo em
grupo. A uma vítima de estupro", criticou a advogada. "Quero procurar
todos os órgãos que possam auxiliar nesse caso. Inclusive a corregedoria de
polícia. Quero representar contra o delegado Alessandro Thiers."
Outra crítica da advogada foi o
fato de que os responsáveis pela divulgação do vídeo e das fotos da vítima não
tenham sido presos em flagrante. "Isso também que me causa estranheza. O
delegado citou o Estatuto da Criança e do Adolescente, que trata da exposição
do abuso sexual de menor. Dois dos investigados estavam na delegacia e
assumiram que fizeram o compartilhamento do vídeo, e não foram presos em
flagrante, não receberam voz de prisão."
Representante de um dos
investigados que prestaram depoimento ontem, o advogado Claudio Lúcio da Silva
admitiu que seu cliente filmou o vídeo na internet, mas negou que ele tenha
participado de estupro. "O meu cliente filmou e assumiu em juízo, mas não
foi ele quem divulgou. Ele ficou surpreso pela repercussão do caso".
Saiba Mais
Em uma entrevista coletiva à
imprensa na tarde de ontem, a Polícia Civil afirmou que a Secretaria Estadual
de Assistência Social e Direitos Humanos receberia a jovem em uma reunião
marcada na próxima segunda-feira. Eloisa rebateu a afirmação e disse que não
tem conhecimento da reunião e que a família da adolescente também não foi
procurada.
"Ninguém me participou de
nenhuma reunião. Nem a família foi informada disso. Queria saber como isso foi
marcado, com quem?", disse a advogada que contou estar preocupada com a
segurança da família. "Elas querem proteção policial, porque estão se
sentindo inseguras. Olhe o que está acontecendo na página da moça [no
Facebook]. As ameaças que ainda continuam", disse.
"Ela está mal e eu estou
bastante preocupada não apenas com ela, mas também com a família, que está
sofrendo essa exposição", destacou a advogada, que afirmou já ter
recomendado que a jovem exclua sua página na rede social, por meio da qual a
adolescente agradeceu o apoio de quem se solidarizou com o caso e também
rechaçou as acusações de quem tenta culpá-la pelo ocorrido. Depois da
entrevista com a advogada, a reportagem constatou que as postagens públicas do
perfil da adolescente foram fechadas.
Em resposta à advogada, a Polícia
Civil divulgou uma nota em que afirma que a investigação "é conduzida de
forma técnica e imparcial" e que convidou a Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB) para designar um representante para acompanhá-la. A nota traz ainda um relato
da DRCI sobre o depoimento da adolescente:
"A DRCI informou que durante
a oitiva da vítima ela confirmou que sofreu o estupro e, lhe foi perguntado se
tinha conhecimento que havia um outro vídeo sendo divulgado em mídias sociais
em que ela apareceria mantendo relações sexuais com homens, conforme relato de
uma testemunha. A vítima informou que desconhece o vídeo e que não é
verdadeiro", diz um trecho da nota.
A Agência Brasil não
conseguiu entrar em contato com a Secretaria Estadual de Assistência Social e
Direitos Humanos. A OAB do Rio de Janeiro confirmou que vai acompanhar a
investigação. O advogado Breno Melaragno, presidente da comissão de segurança
pública da ordem, será o responsável.
Edição: Valéria
Aguiar
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