Cientistas
obtém visão inédita de início da vida em embriões
James
Gallagher Editor de Saúde da BBC News
Cientistas conseguiram simular
quimicamente o ambiente de um útero para observar embriões
Cientistas anunciaram um avanço
no desenvolvimento de embriões humanos em laboratório que pode melhorar
tratamentos de infertilidade e revolucionar nosso conhecimento sobre os
primeiros estágios da vida.
Pela primeira vez, embriões
atingiram uma etapa além do ponto em que normalmente são implantados no útero.
A pesquisa realizada no Reino
Unido e nos Estados Unidos foi interrompida logo antes dos embriões atingirem o
limite legal de 14 dias de vida para o desenvolvimento de embriões em
experimentos científicos.
Mas alguns cientistas já pedem
que este limite seja alterado, uma demanda que levanta diversas questões
éticas.
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Mistério
Os primeiros estágios da vida
humana ainda permanecem um mistério, mas, no estudo publicado pelas revistas Nature
e Nature Cell Biology, os pesquisadores conseguiram estudar embriões por
um tempo maior do que já havia sido feito antes.
O prazo de uma semana costumava
ser o limite, com cientistas sendo capazes de cultivar um óvulo fertilizado até
o momento em que normalmente são implantados no útero.
Mas os autores do estudo
encontraram uma nova forma de imitar quimicamente o ambiente de um útero para
que um embrião continuasse a se desenvolver até atingir a segunda semana.
Isso requer uma combinação de um
meio rico em nutrientes e uma estrutura na qual o embrião pode se
"implantar".
Os experimentos foram encerrados
propositalmente no 13º dia, pouco antes de ser atingido o limite legal, mas bem
além do que havia sido conseguido anteriormente.
Momento crucial
Image copyright Universidade de Cambridge Image caption Á esquerda em
roxo e à direita em lilás, o epiblasto se desenvolve no embrião
A pesquisa já está permitindo
vislumbrar como um embrião dá início ao processo de autorreorganização para se
tornar um ser humano.
Trata-se de um momento crucial,
no qual muitos embriões apresentam defeitos em seu desenvolvimento ou não
conseguem se implantar no útero.
O estudo permitiu, por exemplo,
que pesquisadores observassem em embriões com dez dias a formação do epiblasto,
uma aglomeração bem pequena e crucial de células que formam um ser humano,
enquanto as células ao seu redor se encarregam da criação da placenta e do saco
vitelínico.
Magdalena Zernicka Goetz, da
Universidade de Cambridge, disse que "nunca esteve tão feliz" como
quando cultivar de forma bem-sucedida estes embriões.
"Isso nos permite entender
os primeiros estágios de nosso desenvolvimento e o momento em que o embrião se
reroganiza pela primeira vez para formar o que no futuro será um corpo",
disse ela à BBC.
"Não conhecíamos estes
estágios antes, então, isso terá um impacto enorme nas tecnologias de reprodução."
Dilema ético
Image copyright iStock Image caption Alguns cientistas defendem que
limite legal para cultivo de embriões deve ser revisto
Um acordo internacional determina
que embriões não devem ser desenvolvidos além de 14 dias em pesquisas
científicas. O novo estudo chega perto deste limite, e alguns cientistas já
argumentam que ele deve ser revisto.
"Em minha opinião, já havia
motivos para permitir a cultura de embriões além de 14 dias antes desta
pesquisa aparecer", diz o geneticista Azim Surani, do instituto de
pesquisa Gurdon, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido.
O prazo máximo foi estabelecido
há décadas. Acredita-se que, neste ponto, o embrião torna-se um
"indivíduo" já que não é mais possível que ele forme um gêmeo.
Daniel Brison, professor de
embriologia e células tronco da Universidade de Manchester, no Reino Unido,
também argumenta que talvez seja necessário reconsiderá-lo.
"Dado os possíveis
benefícios para novas pesquisas sobre infertilidade, a melhoria de métodos de
reprodução assistida e para evitar abortos precoces e outros problemas na
gravidez, pode haver motivos para rever este limite no futuro", afirma.
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