Perda de
status de país livre de sarampo é retrocesso, diz pediatra
Para Isabella
Ballalai, é possível reverter quadro de surto
Publicado em 21/03/2019 - 05:55
Por Paula
Laboissière - Repórter da Agência Brasil Brasília
A perda
do status de país livre do sarampo representa um retrocesso para o Brasil e as
Américas, segundo avaliação da vice-presidente da Sociedade Brasileira de
Imunizações (SBIm), Isabella Ballalai. O anúncio de que o país vai perder o certificado de eliminação da doença foi feito
pelo próprio Ministério da Saúde esta semana, após a confirmação de um caso no
Pará, no fim de fevereiro.
“É triste
ver voltar uma doença que já foi uma das principais causas de mortalidade
infantil. A vacinação contra o sarampo mudou a mortalidade infantil, fez cair a
mortalidade infantil. Conversando com um grupo de médicos como eu, que vi o
sarampo, assinei muito atestado de óbito de criança que morreu por sarampo, ver
a doença voltar é, sem dúvida alguma, um retrocesso que não precisava existir”,
disse.
Campanha
de vacinação contra o sarampo - Foto:
OMS/ONU
Em
entrevista à Agência Brasil, a
pediatra, que atua há mais de 30 anos na área de imunização, defendeu
estratégias com foco na comunicação com a população e na capacitação de
profissionais. Ela lembrou que, apesar das baixas taxas de cobertura, a dose
contra o sarampo sempre esteve disponível nos postos de saúde.
“Todos os
anos, a gente tem a campanha de atualização da caderneta de vacinação.
Antigamente, era uma campanha só para o sarampo. Agora, passou a ser um dia
para atualizar todas as doses em atraso. ”
A
especialista afirmou que é necessário resgatar a memória sobre a importância da
vacina na imunização e a compreensão de que, mesmo não tendo a doença, se parar
de vacinar, o mal pode voltar.
“Parece
que as pessoas hoje prestam mais atenção em fake news,
numa informação que não é verdadeira, e não valorizam a doença. Antigamente,
quando o ministério fazia uma campanha contra o sarampo, as famílias iam
correndo porque viam os amiguinhos dos filhos morrerem ou adoecerem por
sarampo. Hoje em dia, ninguém mais vê sarampo. ”
Reversão do quadro
Para
Isabella Ballalai, o Brasil tem chance de reverter o quadro de surto de sarampo
e reconquistar a condição de país livre da doença. Segundo ela, o brasileiro,
em geral, acredita nas vacinas, mas precisa ser mais bem informado e ter maior
facilidade no momento de acessar a dose.
A
pediatra destacou que o país conta atualmente com cerca de 36 mil salas de
vacinação na rede pública, mas o funcionamento desses locais precisa ser
revisto.
“Os
postos ainda funcionam em horário comercial e param para almoço. Precisamos
rever isso porque as famílias trabalham. Na realidade, o que a gente precisa é
parar o que está sendo feito e rever como fazer. Vacina a gente tem. Sala de
vacinação a gente tem. Brasileiros que acreditam em vacinação são maioria. O
antivacinismo não é um problema grande no Brasil, é muito pequeno e não é esse
o motivo que faz com que as pessoas não se vacinem. ”
Vacinação
A
vice-presidente da SBIm reforçou que a vacinação contra o sarampo, em
particular, não é prevista apenas para crianças – adultos até 49 anos também
precisam ser imunizados. No Amazonas, segundo ela, a maior parte dos casos foi
identificado em adultos, não em crianças. Esse, na avaliação do especialista, é
outro grande desafio na busca pelo certificado de eliminação da doença.
“A gente
precisa ter a população adulta vacinada. O ministério oferece a
vacina gratuitamente para eles. Essa comunicação é a mais difícil de ser
entendida – fazer essas pessoas irem tomar vacina. Não é vacina de criança, é vacina
de todos nós. O sarampo é mais grave em adultos do que em crianças, e o adulto
ainda transmite para a criança que não está vacinada. A gente precisa vacinar,
pelo menos, todos até os 49 anos de idade”, afirmou.
Números
De 1º de
janeiro a 19 de março deste ano, foram confirmados laboratorialmente 28
casos de sarampo em dois estados do Brasil, sendo 23 no Pará e cinco no
Amazonas. Os casos, de acordo com o Ministério da Saúde, estão relacionados à
cadeia de transmissão iniciada no país em 19 de fevereiro do ano
passado.
Durante
todo o ano de 2018, foram confirmados 10.326 casos de sarampo, sendo 9.803 no
Amazonas, 361 em Roraima e 79 no Pará. O pico da doença foi registrado em julho
passado, quando 3.950 casos foram contabilizados.
LINK DA
NOSSA MATÉRIA:
http://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2019-03/brasil-perdera-status-de-pais-livre-do-sarampo-apos-caso-no-par
Edição: Carolina Pimentel
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